quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Opinião: Campeonato do bom futebol e da paz.


Estamos dando início a temporada 2008 do futebol no RN e diferentemente da esposa de jó que olhou para traz e virou estátua (bíblia), precisamos sim olhar pra 2007 e lamentarmos alguns tristes acontecimentos que marcaram o esporte local, problemas envolvendo alguns elementos que movidos por razões quaisquer, menos a da rivalidade sadia, provocam cenas de violência dentro e fora dos estádios de futebol e com isso terminam por afastar aos que gostam do espetáculo e acreditam nesses como uma forma salutar de lazer para si e seus familiares.

Precisamos fazer algo,independente da bandeira, seja verde, vermelha/branca ou alvinegra, sob pena de condenarmos as gerações futuras de não poder assistir a uma boa partida de futebol, se tornando cada vez mais prisioneiro da TV, do sofá ... Talvez um amplo movimento em defesa da paz, da tolerância entre as torcidas, como era num passado não muito distante em que ia ao castelão com amigos, nos separávamos dentro do estádio, mas depois voltávamos todos juntos brincando e até chiando de maneira sadia pela vitória do clube da nossa preferência, porém tudo isso de maneira fraternal e respeitosa.

Sei que vivemos numa conjuntura diferente em que somos todos tomados pela perplexidade com as notícias que são veiculadas na mídia. Como esquecermos o índio Galdino (queimado vivo sob o pretexto de que havia sido confundido com um mendigo)? O espancamento da doméstica de Copacabana (confundida com uma prostituta)? A jovem Suzana que, com o namorado, tramaram a execução dos pais (simplesmente para ficar com a herança)? Os punks que desfiguraram um adolescente sem motivação alguma? O casal que matou um trabalhador (apenas por não conseguir R$ 0,40 de desconto em uma pizza que custava um real) - deixando uma jovem viúva e um filho?

O pior nisso tudo é que tais ações que antes dizíamos serem características de “pessoas faveladas”; de jovens vindos da “periferia”, sem instrução, sem oportunidades, sem valores morais, sem família? Hoje, é protagonizada por jovens oriundos da classe média alta, as vezes universitários, realizados financeiramente, vindos de famílias tidas como exemplar na sociedade.

Hannah Arendt ao pesquisar o Totalitarismo (fenômeno ocorrido na primeira metade do século passado - Alemanha, Itália e URSS) identifica a banalização do mal como sendo um tipo de violência característica da sociedade contemporânea – a violência cuja motivação não se inicia a partir de um conflito entre as partes, como foi a atitude de Hitler mediante os judeus, ciganos, prostitutas, deficientes físicos, negros, homossexuais, comunistas, e também os casos dos jovens brasileiros aqui relatados.

È preciso ser tolerante, é preciso ser feliz com a alegria e o sucesso do outro, é preciso respeitar o outro não pelo que eu desejo que ele seja(Alecrinense, Americano, Abcdista...,) mas pelo que ele voluntariamente deseja ser, aceitar as diferenças nas escolhas, entendendo que o ser humano é único e portanto todos somos por natureza diferentes.

O esporte se constitui um espaço de pluralidade, diferenças,porém o que vemos em alguns momentos são cenas de desrespeito, vandalismo, inveja, capazes de transformar a beleza da superação de si, expressa no futebol, numa arena de guerra como tem sido nesses últimos anos.

Convoco todos vocês que visitam-nos a essa reflexão porque creio na força da paz , do amor ,da tolerância e é isso que espero dos que dizem gostar de futebol e querer engrandecer o futebol potiguar. Desejo que vocês se somem aos que combatem a violência e a intolerância.

Que o campeonato estadual 2008 seja muito marcado pela técnica, bons jogos, e paz dentro e fora de campo. E para isso, as diretorias dos clubes devem buscar uma relação de convivência respeitosa entre si, pois muito da radicalização que vemos nos torcedores, muitas vezes é estimulada por pronunciamentos inconseqüentes de dirigentes que não tem dimensão de suas responsabilidades.

(Por João Maria Fraga)

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